Este satélite natural foi cenário de uma disputa acirrada na segunda metade do século 20 Em 1969, o homem alcançou a lua pela primeira vez, marcando o feito mais audacioso da corrida espacial. Esta poderia ter sido uma grande oportunidade para uma simbólica e literal mudança de ponto de vista, ou ainda, ganho de perspectiva, ao observar com distanciamento que não há fronteiras e que vivemos num ecosistema fechado, retroalimentado, no meio do espaço.
Porém, num momento tão propício à novos entendimentos, o que ficou registrado é o enaltecimento da postura de dominação, conquista e controle, representado pela figura de Niel Armstrong ao fincar a bandeira no solo lunar.
Tomada por bandeiras, a lua cinzenta de Doitschinoff é um cenário árido onde as hastes das bandeiras se encontram aglomeradas numa mesma região e enfatizam a construção simbólica colonialista.
Em algumas das pinturas de Stephan, a lua também é representada na forma de um cubo, fugindo à regra de sua representação orgânica. Associada na mitologia e na psicologia ao feminino, às emoções, aos amantes e à maré; a lua adquire conotação oposta, uma vez que o quadrado é relacionado ao masculino, racional e científico.
O múltiplos planetas desenhados por Stephan são inspirados na reflexão levantada recentemente por pesquisadores e intelectuais, como Kalle Lasn*, a respeito da impossibilidade de sustentar o rítmo de consumo e exploração contemporâneo embasado na ideia de que caso a Terra seja extinta, haverão outros tantos planetas para suprir nossas necessidades.
Essa ideia também vem sendo difundida a partir de interpretações de textos religiosos, nos quais a Terra está a serviço do homem e após o juízo final será purificada. Não obstante, grande parte dos congressistas que votam contra os tratados de Kyoto e Copenhague, estão ligados à indústria do petróleo e são adeptos às essas ideias.
* Kalle Lasn, 1942 – Criador da revista Adbusters, escritor, documentarista e ativista. http://www.hani.co.kr/arti/english_edition/e_international/513127.html
A Bandeira como símbolo, quando criada, não tem valor algum. É necessário estar presente no imaginário das pessoas para adquirir significado. Este é dado pela repetição exaustiva, pela presença no território, pela altura em que é exibida ou pela inserção num cenário específico que lhe associe valor e nobreza, como no alto do mastro, de um navio, de um predio, ou até mesmo, na lua.
Quanto mais nacionalista um país, maior a presença de bandeiras. Além disso, os que são retratados segurando a bandeira, geralmente representam um modelo a ser seguido, um exemplo dos valores.
No ícone de Stephan, quem ergue a bandeira é um detento, representante de uma indesejada e marginalizada classe da sociedade. A bandeira cinzenta, atrás das cercas farpadas, aparece repetida inúmeras vezes nela mesma, uma versão ineficaz dos recursos de validação simbólica, como quando uma palavra é falada repetidamente e seu significado é gasto, servindo apenas para reafirmar um valor que em si não é efetivo.
O que sustenta o satélite no ar não é a gravidade, mas acima de tudo, motivações. Ao retratar o satélite em chamas, Stephan aponta uma desestabilização no aparato físico, que simbolicamete remete à corrupção das informações.
Os satélites artificiais podem ter as mais variadas funções. Há uma grande complexidade e investimento para colocá-los em órbita e geralmente são financiados por grandes empresas de comunicação e orgãos públicos.
Entretanto, as motivações destas instituições não necessariamente correspondem à necessidade e expectativa do público receptor. A ideia de ter acesso à uma informação imparcial e verídica é questionável, ao passo que as corporações tem interesses privados e estão atreladas à uma rede partidária unilateral.
A versão bíblica para o inicío da linguagem, ou para os diferentes tipos de linguagem na Terra, conta que num certo momento, o homem tomado por arrogância, resolveu construir uma torre que chegasse até os céus. Deus, vendo isso, se enfureceu e resolveu atrapalhar a obra fazendo com que cada homem passasse a falar uma língua diferente, de modo que o caos se instaurasse e a obra humana não fosse concluída.
Uma outra versão para essa mesma história, embasada científicamente, mas igualmente não aceita academicamente, é sugerida pelo escritor e historiador Terence McKenna (1946 – 2000). Em algum momento da evolução anterior ao Homo Erectus, era comum famílias de primatas perseguirem manadas de grandes mamíferos através do rastro de dejetos. Famintos, sem conseguir alcançar a caça, acabavam comendo os cogumelos que nasciam das fezes dos animais. Esse processo da ingestão do cogumelo Pciloscibe Cubensis, altamente alucinógeno e pscicodélico, teria estimulado a necessidade da comunicação e o início da linguagem.
Longos cabelos entrelaçados tomam conta de personagens e cenas nas pinturas de Doitschinoff. A imagem dos cabelos soltos pode remeter à uma abstração da realidade, à sensualidade e erotismo, ou mesmo, ao movimento e à liberdade de expressão.
Na pscicologia e na mitologia, a simbologia por trás dos pelos e cabelos está relacionada aos animais selvagens, ao instinto e às emoções que não podem ser contidas, que escapam do filtro da razão e dos dogmas. Talvez por isso, diferentes culturas e religiões mantém regras restritas para domar os cabelos, seja cobrindo-os totalmente, exigindo um corte específico ou proibindo qualquer corte.
Cultura significa cultivo. Qualquer coisa cultivada pelo homem é cultural, independentemente de juízo. Entretanto, há um entendimento equivocado de que a cultura é necessariamente algo bom, artístico, ou relacionado à tradições benéficas à sociedade, devendo ser preservada a todo custo.
Usada como pretexto de extrema violência e tortura de pessoas, animais e
do meio ambiente, o rótulo de cultura sustenta ações como apedrejamento, multilação genital, sexismo, corrupção, racismo, suborno, homofobia, entre tantos outros atos e costumes arraigados na sociedade que dificultam o processo de evolução.
O barco, cheio de livros e afundando, trata de um colapso proveniente do peso avindo da cultura nesse contexto de valores distorcidos e disfarçados.
A caravela também pode ser entendida como símbolo de colonização, que traz em si livros incumbidos de homegenizar a diversidade de manifestações cultural de um local, de implementar uma verdade.
Tambem é um fator cultural ( e talvez um dos mais duvidosos ) a propria attitude de um individual ou uma nação, sentenciar uma ação alheia e se achar no direito de intervir em nome do que é bom ou certo. Sobre essa questao, comenta o artista “ Quero trazer a tona esse tipo de reflexao sobre manifestacoes culturais, porem acho perigosissimo que esse tipo de julgamento cultural seja usado como desculpa para qualquer tipo de intervenção militar. A historia mostra que muitas vezes esse tipo de julgamento cultural pode ser usado como pretexto para intervenções militares que se mostraram posteriormente amplamente lucrativas para o interventor, deixando duvidas sobre os reais motivos da ação.
Vor v Zakone, ou em tradução livre do russo, ladrão pela lei, é um sistema de códigos inscritos na pele, que conta a carreira criminal ou biografia do ladrão (vor), cujo o símbolo máximo é a estrela da rosa dos ventos, comumente tatuada nos joelhos, simbolizando suprematismo e indicando que o indivíduo não se ajoelha ou se submete à ninguém.
A estrela da Rosa do Ventos também é retratada em diferentes contextos nas obras de Stephan, como na pintura 3 Mundos* e na instalação Novo Asceticismo*, na qual aparece nos joelhos de Cristo.
Ao trazer essa representação, o artista pretende criar de imediato uma ruptura na mensagem, emancipando ambos os símbolos da carga histórica que carregam e possibilitando que nós, os receptores, lhe confiramos um novo significado.
Jesus na cruz representa o ato máximo de submissão na história do Ocidente, mas a mensagem é corrompida pela inserção de um símbolo de origem e significado oposto, fazendo referência à marginalidade e à insubordinação.
Em 3 Mundos, por sua vez, esse código simbólico é apresentado no joelho de uma alegoria do próprio Estado, simbolo da rigidez, em prol da preservação de valores ultrapassados.
Plantas, fungos, extratos vegetais e animais, com propriedades psicoativas estão profundamente arraigados às praticas espirituais, medicinais e ritos de passagem de povos nativos que foram dizimados, tiveram sua cultura marginalizada, e suas terras desapropriadas, dando lugar à lei, cultura e
tradição do conquistador, cuja relação com a natureza é de controle e não
de pertencimento.
Mais de quarto séculos depois do inicio da colonização das Americas, esse processo de discriminação se perpetua. Em 1961 a ONU sancionou a Convenção Única de Entorpecentes, que insere no mesmo contexto plantas ancestrais usadas nas práticas citadas acima, com substâncias como o crack,
a cocaína e a heroina, piorando drasticamente a questão da marginalização da cultura dos povos nativos e privando inclusive a sociedade cientifica de realizar pesquisas e experiementos.