3, 5, 7 PLANETS LIFESTYLE
O múltiplos planetas desenhados por Stephan são inspirados na reflexão levantada recentemente por pesquisadores e intelectuais, como Kalle Lasn*, a respeito da impossibilidade de sustentar o rítmo de consumo e exploração contemporâneo embasado na ideia de que caso a Terra seja extinta, haverão outros tantos planetas para suprir nossas necessidades.
Essa ideia também vem sendo difundida a partir de interpretações de textos religiosos, nos quais a Terra está a serviço do homem e após o juízo final será purificada. Não obstante, grande parte dos congressistas que votam contra os tratados de Kyoto e Copenhague, estão ligados à indústria do petróleo e são adeptos às essas ideias.
* Kalle Lasn, 1942 - Criador da revista Adbusters, escritor, documentarista e ativista. http://www.hani.co.kr/arti/english_edition/e_international/513127.html
Psicodelia Primitiva
A versão bíblica para o inicío da linguagem, ou para os diferentes tipos de linguagem na Terra, conta que num certo momento, o homem tomado por arrogância, resolveu construir uma torre que chegasse até os céus. Deus, vendo isso, se enfureceu e resolveu atrapalhar a obra fazendo com que cada homem passasse a falar uma língua diferente, de modo que o caos se instaurasse e a obra humana não fosse concluída.
Uma outra versão para essa mesma história, embasada científicamente, mas igualmente não aceita academicamente, é sugerida pelo escritor e historiador Terence McKenna (1946 – 2000). Em algum momento da evolução anterior ao Homo Erectus, era comum famílias de primatas perseguirem manadas de grandes mamíferos através do rastro de dejetos. Famintos, sem conseguir alcançar a caça, acabavam comendo os cogumelos que nasciam das fezes dos animais. Esse processo da ingestão do cogumelo Pciloscibe Cubensis, altamente alucinógeno e pscicodélico, teria estimulado a necessidade da comunicação e o início da linguagem.
O Cabelo do Diabo
Longos cabelos entrelaçados tomam conta de personagens e cenas nas pinturas de Doitschinoff. A imagem dos cabelos soltos pode remeter à uma abstração da realidade, à sensualidade e erotismo, ou mesmo, ao movimento e à liberdade de expressão.
Na pscicologia e na mitologia, a simbologia por trás dos pelos e cabelos está relacionada aos animais selvagens, ao instinto e às emoções que não podem ser contidas, que escapam do filtro da razão e dos dogmas. Talvez por isso, diferentes culturas e religiões mantém regras restritas para domar os cabelos, seja cobrindo-os totalmente, exigindo um corte específico ou proibindo qualquer corte.
A Rosa da Insubmissão
Vor v Zakone, ou em tradução livre do russo, ladrão pela lei, é um sistema de códigos inscritos na pele, que conta a carreira criminal ou biografia do ladrão (vor), cujo o símbolo máximo é a estrela da rosa dos ventos, comumente tatuada nos joelhos, simbolizando suprematismo e indicando que o indivíduo não se ajoelha ou se submete à ninguém.
A estrela da Rosa do Ventos também é retratada em diferentes contextos nas obras de Stephan, como na pintura 3 Mundos* e na instalação Novo Asceticismo*, na qual aparece nos joelhos de Cristo.
Ao trazer essa representação, o artista pretende criar de imediato uma ruptura na mensagem, emancipando ambos os símbolos da carga histórica que carregam e possibilitando que nós, os receptores, lhe confiramos um novo significado.
Jesus na cruz representa o ato máximo de submissão na história do Ocidente, mas a mensagem é corrompida pela inserção de um símbolo de origem e significado oposto, fazendo referência à marginalidade e à insubordinação.
Em 3 Mundos, por sua vez, esse código simbólico é apresentado no joelho de uma alegoria do próprio Estado, simbolo da rigidez, em prol da preservação de valores ultrapassados.
Lua Cravejada
Este satélite natural foi cenário de uma disputa acirrada na segunda metade do século 20 Em 1969, o homem alcançou a lua pela primeira vez, marcando o feito mais audacioso da corrida espacial. Esta poderia ter sido uma grande oportunidade para uma simbólica e literal mudança de ponto de vista, ou ainda, ganho de perspectiva, ao observar com distanciamento que não há fronteiras e que vivemos num ecosistema fechado, retroalimentado, no meio do espaço.
Porém, num momento tão propício à novos entendimentos, o que ficou registrado é o enaltecimento da postura de dominação, conquista e controle, representado pela figura de Niel Armstrong ao fincar a bandeira no solo lunar.
Tomada por bandeiras, a lua cinzenta de Doitschinoff é um cenário árido onde as hastes das bandeiras se encontram aglomeradas numa mesma região e enfatizam a construção simbólica colonialista.
Em algumas das pinturas de Stephan, a lua também é representada na forma de um cubo, fugindo à regra de sua representação orgânica. Associada na mitologia e na psicologia ao feminino, às emoções, aos amantes e à maré; a lua adquire conotação oposta, uma vez que o quadrado é relacionado ao masculino, racional e científico.
Surreal Nacionalismo /
Nacional SurrealismO
A Bandeira como símbolo, quando criada, não tem valor algum. É necessário estar presente no imaginário das pessoas para adquirir significado. Este é dado pela repetição exaustiva, pela presença no território, pela altura em que é exibida ou pela inserção num cenário específico que lhe associe valor e nobreza, como no alto do mastro, de um navio, de um predio, ou até mesmo, na lua.
Quanto mais nacionalista um país, maior a presença de bandeiras. Além disso, os que são retratados segurando a bandeira, geralmente representam um modelo a ser seguido, um exemplo dos valores.
No ícone de Stephan, quem ergue a bandeira é um detento, representante de uma indesejada e marginalizada classe da sociedade. A bandeira cinzenta, atrás das cercas farpadas, aparece repetida inúmeras vezes nela mesma, uma versão ineficaz dos recursos de validação simbólica, como quando uma palavra é falada repetidamente e seu significado é gasto, servindo apenas para reafirmar um valor que em si não é efetivo.
Satelites Artificiais
O que sustenta o satélite no ar não é a gravidade, mas acima de tudo, motivações. Ao retratar o satélite em chamas, Stephan aponta uma desestabilização no aparato físico, que simbolicamete remete à corrupção das informações.
Os satélites artificiais podem ter as mais variadas funções. Há uma grande complexidade e investimento para colocá-los em órbita e geralmente são financiados por grandes empresas de comunicação e orgãos públicos.
Entretanto, as motivações destas instituições não necessariamente correspondem à necessidade e expectativa do público receptor. A ideia de ter acesso à uma informação imparcial e verídica é questionável, ao passo que as corporações tem interesses privados e estão atreladas à uma rede partidária unilateral
Cultura Colapso
Cultura significa cultivo. Qualquer coisa cultivada pelo homem é cultural, independentemente de juízo. Entretanto, há um entendimento equivocado de que a cultura é necessariamente algo bom, artístico, ou relacionado à tradições benéficas à sociedade, devendo ser preservada a todo custo.
Usada como pretexto de extrema violência e tortura de pessoas, animais e
do meio ambiente, o rótulo de cultura sustenta ações como apedrejamento, multilação genital, sexismo, corrupção, racismo, suborno, homofobia, entre tantos outros atos e costumes arraigados na sociedade que dificultam o processo de evolução.
O barco, cheio de livros e afundando, trata de um colapso proveniente do peso avindo da cultura nesse contexto de valores distorcidos e disfarçados.
A caravela também pode ser entendida como símbolo de colonização, que traz em si livros incumbidos de homegenizar a diversidade de manifestações cultural de um local, de implementar uma verdade.
Tambem é um fator cultural ( e talvez um dos mais duvidosos ) a propria attitude de um individual ou uma nação, sentenciar uma ação alheia e se achar no direito de intervir em nome do que é bom ou certo. Sobre essa questao, comenta o artista “ Quero trazer a tona esse tipo de reflexao sobre manifestacoes culturais, porem acho perigosissimo que esse tipo de julgamento cultural seja usado como desculpa para qualquer tipo de intervenção militar. A historia mostra que muitas vezes esse tipo de julgamento cultural pode ser usado como pretexto para intervenções militares que se mostraram posteriormente amplamente lucrativas para o interventor, deixando duvidas sobre os reais motivos da ação.
Enteógenos
Plantas, fungos, extratos vegetais e animais, com propriedades psicoativas estão profundamente arraigados às praticas espirituais, medicinais e ritos de passagem de povos nativos que foram dizimados, tiveram sua cultura marginalizada, e suas terras desapropriadas, dando lugar à lei, cultura e
tradição do conquistador, cuja relação com a natureza é de controle e não
de pertencimento.
Mais de quarto séculos depois do inicio da colonização das Americas, esse processo de discriminação se perpetua. Em 1961 a ONU sancionou a Convenção Única de Entorpecentes, que insere no mesmo contexto plantas ancestrais usadas nas práticas citadas acima, com substâncias como o crack,
a cocaína e a heroina, piorando drasticamente a questão da marginalização da cultura dos povos nativos e privando inclusive a sociedade cientifica de realizar pesquisas e experiementos.
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